A nossa partida iniciou se dia 20 de setembro e pela frente tínhamos 1700kms até Erfoud em Marrocos, onde nos esperava o bivouac do rally. Foram dois dias cansativos de viagem mas a vontade de conhecer aquelas terras marroquinas era tão grande que pareceu que nem cansados chegamos ao destino. Ao terceiro dia montamos a estrutura de assistência da Vettra Motorsport no bivouac e tivemos dois dias de testes com o Bianchi Prata e Mário Patrão (estes altamente habituados a estas lides) pelas dunas do Erg Chebbi e que se veio a revelar uma mais valia para as dificuldades que iamos encontrar durante a prova. Nesses testes começaram os primeiros “atascanços” e o consequente “cavar” das dunas. Engane se quem pensar que é fácil andar do que quer que seja em cima das dunas de areia onde em muitos casos o YamahaYXZ apenas as conseguia transpor de primeira velocidade. As referências eram nulas, era muito importante manter o rumo correcto e não perder a concentração e aqui entra a parte psicológica da coisa. O mais normal seria entrar em “parafuso” ao pensar se que estamos perdidos, mas o que é certo é que adorei navegar nessas condições. O desafio era enorme mas na realidade acho que conseguimos superá lo com êxito e com muita aprendizagem. Aprendemos que no meio das dunas nunca há tempo para nada, e que nunca há duas dunas iguais. Haviam dunas que se atravessavam de maneira diferente de outras e por diversos momentos voamos mesmo com aquela sensação que se ia capotar porque o chão desaparecia. Já em prova conseguimos “surfar” em grande parte delas sem nunca perder o rumo dos waypoints que tínhamos de “picar”. Foram 6dias de etapas muito exigentes tanto na condução como na navegação, compostas por um total de 1300 kms entre as quais uma etapa maratona com 500kms e onde realço o excelente trabalho da organização do rally para manter uma prova desta envergadura de pé. Quer a nível da segurança, quer na realização dos roadbooks, estiveram organizados e com poucas falhas e por isso será uma prova que desejo muito repetir em 2018. A etapa maratona foi espectacular pois ficamos a dormir em aimas (tendas marroquinas) no meio do deserto e esta regulamentado serem os pilotos a fazerem a manutenção as viaturas sem ajuda externa da assistência. Foi uma noite de convívio com todos os portugueses presentes na prova onde imperou a boa disposição e deu também para aprender mais algumas coisas com as experiências deles noutras provas. Foi gratificante partilhar durante todos os dias o espírito do “dakar” com a malta “tuga” e por isso aproveito desde já para agradecer imenso ao meu amigo e piloto nesta aventura, o João Rebelo Martins, pelo convite e confiança demonstrada nos meus serviços, onde sem dúvida saímos deste rally com um vasto conhecimento de como as coisas funcionam neste tipo de provas, e à Vettra Motorsport nas pessoas do Rafa Leal e do sr. Domingos Martins pela magnifica assistência que efectuaram diariamente ao nosso Yamaha para que todos os dias ele tivesse em perfeitas condições de seguir viagem. A prova disso é que o Yamaha portou se sempre à altura do pretendido e aguentou se firmemente até ao final. Cansados, mas felizes com o sentimento de dever cumprido, restam nos agora mais dois dias de viagem. Um já esta quase feito em terras marroquinas, o outro fica reservado para o regresso á Europa onde levamos na bagagem uma mala de histórias para mais tarde recordar por terras de África. Meus amigos/as, mais uma vez muito obrigado a todos/as pelo vosso incondicional apoio e termino esta aventura com a “minha” mítica frase do qual sou apologista, de que “o sonho comanda a vida”. Com isto posso vos dizer que este sonho de África ficou realizado mas ele ainda só vai no início.
